sábado, 23 de março de 2013

Mano

Um dia destes num almoço de família, virei-me para o meu irmão e disse:
- Ó mano passa-me aí as batatas, se faz favor!!!
A minha sobrinha mais velha, que estava ao nosso lado, olhou para nós, franziu as sobrancelhas e disse:
- Mano?!
E nós lá lhe explicamos que o pai dela era meu irmão e que por isso ela era minha sobrinha e eu a tia dela e patati patatá... Não sei se a miúda ficou convencida ou desligou a ficha antes mesmo de termos terminado a explicação... Mas ao olhar de longe para esta situação, até achei engraçado, eu na casa dos inta e o meu irmão na casa dos enta e tratá-lo como tratava quando era mais nova. O que sei é que ele não me chama muitas vezes mana, talvez por eu ser a mais nova, a cassulinha, a protegidinha e ele ter tido a responsabilidade de mano mais velho, protetor e amigo. Lembro-me de sermos bons guardadores de segredos um do outro, de incobrirmos durante anos as asneiras que fazíamos à minha mãe e quando ela descobria já era tarde... Lembro-me de sair à noite e ir à discoteca  pela primeira vez com ele. Lembro-me de um dia ele me encontrar o meu diário (sim, na fase da adolescência escrevia que me fartava), ter-se fechado no quarto de banho e ter lido o meu diário todo em voz alta e eu do outro lado aflita. Lembro-me de me andar sempre a chatear com a história dos namorados. Lembro-me de ambos fazermos várias coleções e ele levar sempre a melhor quando fazíamos uma troca. Lembro-me de ser impossível estarmos os dois em casa, pois molhávamos a casa toda com pistolas de água e o meu avô coitado, sempre a resmungar connosco. Lembro-me de opinar também sobre as namoradas dele. Lembro-me das cócegas intermináveis no sofá até à hora de ir para a cama. Lembro-me da paixão dele ser o futebol e num aniversário meu ele dizer que ia marcar um golo para mim e assim o fez... E isto tudo para dizer que ele para mim vai ser sempre o meu maninho... É tão bom ter irmãos, preenchendo uma pequena parte da vida de boas recordações... Já me estou a imaginar com setenta e tal anos, toda coxa e ele com oitenta e picos de muleta e eu ainda a tratá-lo por Mano e a nossa descendência futura achar aquilo "bué da estranho"!!!

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